Quando a partilha é mais forte do que a diferença

EB1 do Penteado conta com trabalho voluntário de utente da NÓS

«Ela é nossa amiga», «Gostamos muito dela», «Ela ajuda a cuidar de nós». É assim que os alunos da Escola Básica do 1º Ciclo (EB1) do Penteado veem Helena, ou «a Leninha» como carinhosa-mente preferem chamá-la. Não só as funções dentro da sala de aula mas também cerca de 50 anos os separam, à Helena, utente do Lar Residencial ‘Nossa Casa’, e aos alunos de uma das turmas desta escola. Mas ali todos estão integrados e, na verdade, todos aprendem, sobretudo uma lição principal: respeitar e aceitar a diferença.
Helena Carvalho, natural do Barreiro, lembra-se de ir à escola primária com as suas duas irmãs mais novas, mas cedo a família percebeu que Helena não iria acompanhá-las nesse percurso durante muito tempo. Se não fosse isso, talvez pudesse ter sido professora, médica, artista… não sabemos, mas a vontade de Helena em ajudar e ser útil aos outros ditou que pudesse fazer trabalho voluntário já em idade adulta.
A ideia partiu de Rita Jeurissen e Sílvia Beirão, as duas técnicas da NÓS – Associação de Pais e Técnicos para a Integração do Deficiente que coordenam o dia-a-dia dos 18 residentes do Lar ‘Nossa Casa’, onde vive Helena, uma das utentes «fundadoras» desta resposta social localizada no concelho da Moita, destinada a pessoas adultas com deficiência, com reduzidos níveis de autonomia e de suporte familiar. O ar do campo, os passeios e as atividades ao ar livre proporcionam um ambiente agradável aos que estão afinal na “sua própria casa”, mas a alguns pode faltar algo mais. Era o caso de Helena.
O avanço da idade da sua mãe foi o passo decisivo para a entrada de Helena no Lar Residencial da Associação NÓS, já que ambas viviam sozinhas, partilhando uma vida da qual Helena recorda as idas às compras e ao café, assim como os momentos de crochet e a participação em tarefas domésticas. Aos 57 anos, não deixa de visitar a mãe num lar de idosos e de fazer as habituais visitas de domingo a casa de uma das irmãs, com quem tem uma relação de grande afetividade; mas é no lar que Helena assume que está bem.
Ali não só é utente como também auxilia em algumas tarefas. “Desde o início que a Helena demonstrou muita apetência para ajudar a fazer as camas, a arrumar a loiça, a varrer o jardim e, se ela se sente bem assim, não a impedimos, pois está na «sua casa»”, contextualiza Rita Jeurissen.
No seu quarto, Helena tem um canto dedicado a uma das atividades que mais aprecia: a pintura. A esta arte dedica grande parte do seu tempo, ainda que, de momento, a sua atenção esteja também virada para uma tarefa especial: aprender a escrever o seu nome, uma missão da iniciativa de alguns alunos da EB1 do Penteado.
Foi da procura de outras atividades que ocupassem o quotidiano de Helena que surgiu o contacto com esta escola, cujo agrupamento – Agrupamento Vertical de Escolas de D. Pedro II, Moita – revelou “abertura à possibilidade de fazer trabalho voluntário”. “Já é o segundo ano que a Helena está naquela escola e sabemos que é bom para ela mas, de igual modo, para os alunos, pelo trabalho de respeito pela diferença”, argumenta a psicóloga.
«Os alunos aceitam-na muito bem»
Enquanto meninos e meninas estão atentos à matéria lecionada pela professora, Helena dedica-se ao que mais gosta: a pintura. A sua presença não é estranha na sala e a aula decorre normalmente, entre as contas de Matemática e os desenhos de Inverno pintados pela «Leninha».
Em conversa sobre as suas tarefas, Helena diz, animada, que acompanha as crianças desde que chegam até saírem da escola, assim como também ajuda a pôr as mesas e a tirar a loiça para lavar no refeitório, à hora de almoço. “Eles portam-se muito bem e a professora é muito amiga”, conta, admitindo que ali também ela aprende e que até gostava de “ir à escola mais vezes”.
Entre as atividades que fazem «com a Leninha», as crianças da EB1 do Penteado revelam que gostam que ela os acompanhe nas visitas de estudo, o que já aconteceu duas vezes neste ano letivo, nomeadamente ao Teatro da Moita. Perante a pergunta «o que acham de ter a companhia da Leninha», surge uma resposta em coro – “é fixe” – acompanhada de diversas explicações: “é muito boa para nós”, “porque nos ensina a pintar bem”, “faz-nos companhia”, “é muito simpática”, “trata bem de nós”.
A participação de Helena nas tarefas da escola acaba por ser uma ajuda também para Maria Afonso, única assistente operacional deste estabelecimento de ensino. “Ela vem sempre muito contente e conversa muito sobre o dia-a-dia no lar. No intervalo, vamos lá para fora e ela gosta sempre de varrer a areia do recreio. Dá uma boa ajuda”, considera.
Para a professora da turma mista de 1º e 4º anos da EB1 do Penteado, Leonor Ventura, a pre-sença de Helena às segundas de manhã e às quartas à tarde faz mesmo parte das rotinas da turma e da própria escola. “A Helena é uma pessoa ativa e que gosta de ajudar, seja nos recreios ou nos almoços, e foi muito bem aceite pelos meninos, tanto no ano letivo passado como neste ano, e alguns decidiram ajudá-la a fazer o seu nome. Penso que o que ela gosta mais é de estar dentro da sala, onde normalmente está a pintar; por vezes, ajuda-me a mandá-los calar quando fazem barulho e faz-lhes um «chiu»”, brinca a professora.
Certo é que, caso a Helena não apareça nos dias previstos, os alunos “sentem a falta dela”. “As-sim que ela toca à campainha da escola eles dizem logo «Vem aí a Leninha!»; ela já é «da casa»”, revela Leonor Ventura. E é, assim também, nesta «casa» que Helena acaba por ajudar, aprender, sentir-se útil e integrada.

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